quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Pra quem pensa que ganhar dinheiro é estar imune ao racismo ...

"O racismo (...) transcende a maximização do lucro como motivo para oprimir o negro. Em 1973-74, quando um clube exclusivo de Chicago fugia da zona sul porque a comunidade se tornava negra, os donos recusaram uma oferta de mais de 13 milhões de dólares da Nação do Islã (os muçulmanos negros), que planejavam construir um hospital para a comunidade. Venderam a terra por 9 milhões, sofrendo um prejuízo de cinco milhões de dólares, antes que ver aquele espaçoutilizado em benefício da comunidade negra. É claro que este exemplo flagrante é um só entre muitos outros , variados em tom de sutileza."

Elisa Larkin, Pan-Africanismo na América do Sul: Emergência de uma Rebelião negra, p.27


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

"Deixarei que a imagem fale por si só"

Mais em: http://eosaciurbano.wordpress.com/

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

MIOLO MOLE FRITO

Rodrigo Ciríaco


Meu sonho é matar meu padrasto. Essa noite eu consigo. Vou ferver o óleo e de madrugada jogar dentro do seu ouvido. Enquanto ele estiver com o sono pesado, dormindo que nem um menino.

Não será para ele não sofrer não, eu quero que ele sofra. Muito. Mas tem que ser na trairagem pra ele não me machucar mais, não mexer mais comigo. Nem com a minha irmã. Alias, eu avisei: faz o que quiser no meu corpo dolorido. Me bota pra lavar roupa, limpar a casa, sentar no seu colinho. Antes eu chorava, esperneava, mas agora... Agora eu desligo. Só que deixa a Beatriz de lado. Deixa a Beatriz.

Se encostar num fio...

Podia cuspir na minha cara, chupar o meu peitinho. Esfregar a minha testa contra a porta do armário, apertar o meu pescoço – como fez tantas vezes - mas, ela não. Ela ainda é ingênua. Não carrega esse riso triste, esse sangue pisado. O chumbo vazio.



Valeu o aviso?

Tudo bem. Quando eu estiver esquentando o óleo, vou lembrar bem da temperatura do seu cinto. A maneira que ele queimava o meu lombo. A agulha de crochê e a ameaça que você fez de enfiar dentro do meu olho. Espetar a minha retina como o dedo fura o bolo, lembra? Lembra Antônio? Eu lembro. A cicatriz ainda tá no meu rosto. Naquele dia você mandou eu sofrer e não soltar nem um pio. Quietinha. Nem um pio.

Esse é meu sonho professor. Esta noite eu realizo. Apagar a bituca do cigarro na bochecha de Beatriz só fez eu ter certeza do meu pedido. Sabia que carne queimada é fedido? Por isso que não sai da minha cabeça o tssssssssss do óleo escorrendo na orelha, fritando o lóbulo, amolecendo os tímpanos. Quem sabe assim ele escuta os gritos que eu não pude dar quando vinha pra cima com o corpo pesado, exalando cachaça. Quem sabe assim a minha mãe acorda e percebe o que fez com a gente. Comigo.

Sei que o senhor pode estar assustado prôfi mas, não se preocupe. Quando for corrigir essa Redação já estará tudo resolvido. Eu, com o pé na estrada. E o miolo mole, frito.

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